quarta-feira, 19 de agosto de 2009

PHASE IV (1974)


Silencioso, assombroso e belo, Fase IV é um intrigante (e também negligenciado) filme de ficção científica feito pelo renomado designer Saul Bass (o homem por trás das sequências de créditos iniciais de Psicose, Um corpo que cai, entre outros outros). Mas para quem espera sustos e monstros medonhos regados a surpreendentes efeitos especiais (que parecem ser requisistos das ficções de hoje) definitivamente é melhor passar longe de Phase IV. Esse é um daqueles raros filmes que exige uma apreciação atenta, que nos leva e nos obriga a algumas reflexões...
As primeiras e psicodélicas imagens nos mostram um misterioso fenômeno cósmico que não afetou a humanidade...

...Mas que parece ter transformado de alguma forma os seres mais inofensivos e banais do planeta terra: as formigas.


A ação de Fase IV se inicia em um trecho desolado do deserto norte-americano, de onde o olhar artístico de Saul Bass explora os matizes da paisagem cena após cena acentuando os castanhos, laranjas e amarelos.

Somos então levados por uma série de close-ups de formigas e uma voz em off começa a destacar as habilidades e potenciais inerentes a esta força da mais insignificante das criaturas de Deus. Por várias cenas, filmadas de uma maneira quase documental somos convecidos do potencial impacto que as formigas podem ter sobre o planeta.


A história humana de Fase IV diz respeito aos esforços de Doutor Hobbs (Nigel Davenport), e James (Michael Murphy), o seu assistente, para estudar as recentes e estranhas atividades das formigas do local. Embora quase todo mundo na América tenha relatado o estranho e novo comportamento das formigas, ninguém deu importância.


Mas o Dr. Hobbs está convencido de que algo importante, e possivelmente catastrófico, está acontecendo na solidão do deserto.


Depois de garantir o dinheiro necessário para financiar seus experimentos, Hobbs e seu assistente se estabelecem em um laboratório hermeticamente fechado para assistir o comportamento das formigas.


E os temores se concretizam ao perceberem o progresso evolutivo das formigas, seu aumento de inteligência e, possivelmente, uma consciência coletiva impregnada com noções de expansão territorial.


Nas mãos de um impaciente diretor, esta história sobre hordas imperialistas de formigas poderia muito bem se tornar ridícula! Mas Bass mantém a sua história firmemente plantada no reino do crível e evita usar qualquer efeito especial para mostrar criaturas monstruosas.


Em vez do sensacionalismo, Bass oferece-nos cenários que são viáveis e por isso mesmo muito mais assustadores. Assim sendo, temos legiões de formigas que atacam fios elétricos para desligar o ar-condicionado que alimenta o laboratório, numa clara tentativa de matar os cientistas humanos.


E assim agem as diminutas formigas, aparentemente frágeis, mas com uma força coletiva terrível, capaz de devorar em instantes um homem de dentro para fora.


O mais intrigante na direção de Bass é que mesmo os momentos macabros são imbuídos de tal beleza misteriosa que não conseguimos deixar de apreciar a sublime fotografia do filme, mesmo em seus instante de horror. Ok, eu confesso, sou um fã do Saul Bass... he he he

Para além do visceral e imediato horror que o filme mostra, existe uma profunda e mais sinistra idéia.


Conforme o filme avança, vemos como Hobbs é lentamente consumido por uma enlouquecedora febre devido a uma picada, enquanto James luta para encontrar uma forma de se comunicar com as formigas. Em certa altura, junta-se a eles uma linda jovem, sobrevivente de um ataque das formigas à sua fazenda. Mas percebemos que o destino dessas almas solitárias, em última instância, é irrelevante para a história.


Vivos ou mortos, os nossos heróis são apenas o primeiro obstáculo para que as formigas tenham a derradeira conquista de toda a civilização.


Sabendo que Hobbs, um homem de ciência e por isso mesmo ciente do poder do inimigo, é incapaz de impedir o avanço das formigas, temos de encarar o fato de que o resto da humanidade também está condenada, que todos os nossos esforços para deter as formigas provavelmente serão infrutíferos.


E apesar de Fase IV marchar para uma desesperada conclusão, Bass abstém-se de nos mostrar esse terrível apocalipse, deixando para o final apenas uma sucessão de belas imagens e um calafrio premonitório do que está por vir.



E o poder das imagens criadas pelo diretor/designer é incontestável. E a sua fusão com a trilha sonora eletrônica do grupo "Tangerine Dream" também ajuda a criar uma atmosfera totalmente alienígena e desconfortável.


Para quem não conhece, Saul Bass (1920-1996) foi um extraordinário designer, que a partir de 1955, revolucionou os créditos de apresentação de filmes, ao fazer os trabalhos introdutórios de "Carmen Jones"(1955), e "O Homem do Braço de Ouro" (The man with the golden arm, 1956), ambos de Otto Preminger, que voltaria a utilizar seu talento em outros filmes ("Anatomia de um crime", 1958; "Exodus", 1960; "Tempestade sobre Washington", 1962 e "Bunny Lake Desapareceu", 1965).


Evidentemente, que seu talento não ficou restrito aos filmes de Preminger: colaborou com Alfred Hitchcook ("Intriga Internacional", 1959 e "Psicose", 1960), Michael Anderson ("A Volta ao Mundo em 80 Dias", 1957), Delmer Daves ("Como Nasce Um Bravo/Cowboy", 1958), Stanley Kubrick ("Spartacus", 1960), Robert Wise ("Amor Sublime Amor", 1962), Edward Dmytryk ("Pelos Bairros do Vício", 1962), Stanley Kramer ("Deu a Louca no Mundo", 1963) e Carl Foreman ("Os Vitoriosos", 1964), para só citar apenas alguns de seus trabalhos. Para quem quiser saber mais sobre esse gênio das imagens é obrigatória a visita ao www.notcoming.com/saulbass/index2.php

SOBRE O DVD: Phase IV nunca foi lançado em DVD no Brasil e sinceramente acho que jamais será. É o tipo de filme que não convêm aos interesses comerciais das distribuidoras. Para quem é fã e gostaria de ter este inegável cult em DVD, entre em contato. Possuo uma versão do DVD-região 1 com legendas em português (rub.records@yahoo.com.br)


sábado, 1 de agosto de 2009

20.000 LÉGUAS SUBMARINAS (1954)

Na década de 50, cansado da dependência com a distribuição da RKO, Walt Disney decidiu controlar seu próprio destino em Hollywood criando a Buena Vista, que foi lançada em grande estilo com a superprodução 20.000 leguas submarinas em 1954. Dirigido por Richard Fleischer (Conan, o Destruidor), com Kirk Douglas e James Mason no elenco.
Em 1868 relatos alarmantes sobre um monstro marinho, que destruía navios facilmente, gera um temor nas companhias de navegação. Em virtude disto vários navios não levantam âncora, pois não há tripulação corajosa o bastante. Em São Francisco um professor francês, especialista em vida marinha, precisa ir à Shangai e enfrenta o mesmo problema, pois a tripulação do seu navio desertou. Mas ele e seu assistente são convidados pelo governo americano para uma viagem que pretende confirmar ou negar este boatos.
No contato com o monstro, o navio americano Abraham Lincoln é danificado até ao ponto de não conseguir prosseguir viagem.

O professor Aronnax (Paul Lukas), Conseil (Peter Lorre), seu criado, e Ned Land (Kirk Douglas), arpoador exímio, são atirados ao mar onde são recolhidos por uma misteriosa embarcação, capaz de navegar embaixo da água! Algo inconcebível para a época.

Em Vinte Mil Léguas Submarinas, Júlio Verne nos mostra um submarino, o Náutilus, completamente autônomo do meio terrestre, movido somente a eletricidade. O engenheiro, dono e capitão desta maravilha é o Captão Nemo (James Mason), ele e a sua tripulação cortaram todas as relações com os continentes e com a humanidade. Vivem somente do que o mar lhes dá, a comida, a matéria prima que necessitam para a produção de eletricidade, tudo vem do mar.

Mas a humanidade não conhece a existência desta obra prima de engenharia que o capitão Nemo criou em segredo, e, quando este começa a provocar estragos em navios e embarcações, o mundo passou a temê-lo, imaginando o submarino como um monstro marinho.


Durante vários meses, o Náutilus percorreu dezenas de milhares de quilômetros sob as águas, passando por muitos lugares e peripécias. Os três prisioneiros do captão Nemo assistem estarrecidos a todas estas prodigiosas maravilhas do submarino. É claro que Nemo se trata de um gênio, mas o professor quer saber quais os motivos que fizeram aquele homem se isolar do mundo, se podia contribuir com seu enorme conhecimento. Gradativamente revelações estarrecedoras vão surgindo...




O vencedor do Oscar Paul Lukas está bem no papel designado, Kirk Douglas (um dos melhores atores de cinema de todos os tempos) deu destaque ao arpoador Ned Land e Peter Lorre, apesar de um papel pequeno, está ótimo também. Agora, James Mason, que se entregou totalmente ao personagem, faz o melhor Nemo do cinema. Sua caracterização é perfeita, com toques de idealismo e loucura contida.


Todo o design de concepção do filme é incrível, uma maravilha para a época, e o Nautilus está muito bem construído e decorado, o que atesta de vez as qualidades que tornaram este conceito visual como o definitivo do Nautilus .










Os espantosos efeitos especiais de Ralph Hammeras, Ub Iwerks, John Hench e Josh Meador e a direcção artística/cenários de John Meehan e Emile Kuri são perfeitos.






Por isso o filme ganhou 2 Oscars, nas categorias de Melhor Direção de Arte e Melhores Efeitos Especiais, além de ter sido indicado na categoria de Melhor Edição.



O orçamento do filme foi de US$ 5 milhões.



Um dos modelos utilizados para o Nautilus nas filmagens está em exposição no Walt Disney World's Epcot Center na atração, "The Living Seas". Esta produção foi tão grande que a Disney tinha de utilizar instalações de outros estúdios. Isto incluiu a Universal International e a 20th Century Fox.Na época Peter Lorre alegou que a lula gigante pegou o papel que era geralmente reservado para ele.
Além de suas muitas contribuições como designer de produção, Harper Goff também ensinou Kirk Douglas a tocar o violão para a cena musical do seu personagem

De acordo com Kirk Douglas, em sua autobiografia, " Ragman's Son ", a cena no início do filme onde Ned Land passeia acompanhado com uma linda garota em cada braço e logo depois se envolve numa briga, foi escrita a seu pedido. Na época em que o filme foi feito, Douglas estava no auge de sua carreira e muito preocupado com a promoção de sua imagem. Ele queria sempre passar uma reputação de homem elegante para as senhoras e a de um "machão" como um herói ação. Quando ele leu o primeiro roteiro do filme, ele ficou um pouco decepcionado ao descobrir que seu personagem Ned Land não fazia aparições com qualquer mulher que seja e não iniciava nenhuma briga. Tendo estas preocupações expressas tanto para Walt Disney como para o diretor Richard Fleischer, a cena de luta foi acrescentada especialmente para satisfazer Douglas... He he he

SOBRE O DVD: 20 mil Léguas nunca foi lançado no Brasil. Por essa razão, descolei o importado de Portugal mesmo em uma edição especial bem recheada de extras. Para quem é fã e gostaria de ter este clássico em DVD, entre em contato. Possuo uma versão do DVD-região 2 (rub.records@yahoo.com.br)